As narrativas sobre maturidade estão mudando. Ainda bem. E há um elemento novo: as separações entre pessoas com mais de 50 anos, que estão sendo chamadas de “divórcio cinza”, tiveram crescimento de 30% nos últimos anos, segundo dados do IBGE. Hoje, é uma tendência estrutural que revela mudanças nos modos de vida e expectativas sobre envelhecimento.
A autonomia como projeto de vida
Por trás desses números está uma reconfiguração da biografia feminina. A independência financeira conquistada por mulheres dessa geração, combinada com maior expectativa de vida e mudanças legislativas que simplificaram o divórcio, criou condições para que a separação deixasse de ser tabu e se tornasse estratégia de realização pessoal.
Estamos falando de uma geração que entrou na vida adulta quando o casamento era ainda um projeto compulsório, especialmente para mulheres. Décadas depois, com filhos criados e carreiras consolidadas, essas mulheres se perguntam o que querem para si.
A resposta, para muitas, tem sido a busca por experiências que ficaram em suspensão durante os anos de dedicação exclusiva à família. O que antes era visto como fim de ciclo está sendo ressignificado como segunda adolescência, um período de experimentação e descoberta de novas identidades.
Economia do recomeço
O fenômeno revela também o surgimento de uma economia do recomeço voltada para pessoas maduras que buscam reinvenção. Turismo solo, educação continuada, moradia compartilhada para sêniors, aplicativos de relacionamento para maiores de 50… setores inteiros se estruturam para atender demandas de quem decidiu que a vida aos 50, 60 ou 70 anos pode incluir capítulos completamente novos.
Isso contrasta radicalmente com modelos tradicionais que veem a maturidade como período de estabilização e redução de expectativas. A geração que hoje protagoniza o “divórcio cinza” está construindo uma narrativa alternativa sobre envelhecimento, onde autonomia e satisfação pessoal permanecem prioridades.
Para marcas que atendem o público maduro, o “divórcio cinza” pode ser oportunidade de reposicionamento estratégico. A narrativa tradicional de “família reunida” e “estabilidade” pode estar perdendo relevância para uma audiência que busca reinvenção e autonomia.
Esse público recém-divorciado possui características específicas: renda consolidada, tempo disponível, desejo de experimentação e, muitas vezes, necessidade de reconstruir completamente seus ambientes e rotinas. São pessoas que saíram de uma estrutura de consumo compartilhado para decisões de compra individuais, frequentemente pela primeira vez em décadas.
Comunicação para a reinvenção
Marcas que conseguem falar para essa audiência sem condescendência ou estereótipos sobre “terceira idade” encontram um mercado receptivo e com poder de compra. A comunicação eficaz para esse público reconhece que:
Autonomia é valor central: produtos e serviços que enfatizam independência e controle pessoal ressoam mais que apelos familiares tradicionais.
Experimentação é desejada: essa audiência está aberta a novas experiências, marcas e formas de consumo. É um público disposto a testar e investir em novidades.
Dignidade importa: evitar infantilização ou paternalismo. Esse público quer ser tratado como consumidor sofisticado, que é.
Praticidade tem valor: soluções que facilitam a vida solo, desde aplicativos intuitivos até produtos pensados para uso individual, ganham preferência.
À medida que mais pessoas descobrem que recomeçar aos 50+ é viável e desejável, marcas que compreenderem essa transformação cultural estarão posicionadas para capturar uma audiência em plena expansão e, felizmente, com muito a experimentar.
Melissa Resch,
diretora criativa da VOZ Colab
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