O período The Handmaid's Tale está de volta nos Estados Unidos e, também nisso, tem estratégia narrativa – infelizmente. Nesta edição, separamos alguns pontos que chamaram a atenção no retorno de Trump à Casa Branca.
Na narrativa do presente, a ressonância ao passado
As mudanças começam já pelo novo logotipo da Casa Branca. A Fast Company bem apontou que o novo design parece buscar inspiração em ilustrações históricas, datadas do final do século XVIII. Com linhas detalhadas e uma estética clássica, reforça a narrativa de retorno a um passado idealizado, marcado por valores conservadores e excludentes. A escolha da bandeira em cores no emblema remete à era Reagan, período de saudosismo nacionalista que ignorava desigualdades estruturais em favor de uma mensagem de força e controle – detalhe também evocado na nova tipografia, mais alta e imponente.
Toda a estética traduz a estratégia da atual administração de se posicionar como restauradora de uma ordem tradicional. A medida executiva assinada logo na posse de Trump, promovendo arquitetura federal em estilos clássicos e rejeitando linguagens contemporâneas, reforça essa ideia. Ao romantizar o passado, a administração obscurece debates urgentes sobre diversidade e inclusão, tentando cristalizar uma visão limitada e autoritária de identidade nacional.
A narrativa não se encerra no design. No site atualizado da Casa Branca, mensagens como “a América está de volta” e “todos os americanos seguros e protegidos novamente” reforçam o mesmo discurso, que ignora avanços sociais e promove uma visão homogênea e anacrônica da sociedade. Em tudo, está estampado um governo que se recusa a olhar para frente.
Nos pontos de contato, o desdobramento das estratégias
O novo site da Casa Branca traz um vídeo de abertura com protagonismo a Trump, tudo em uma linguagem autoritária e com muitos elementos militares. A versão oficial em espanhol foi desativada, exibindo agora a mensagem “página no encontrada”, e os perfis em redes sociais nesse idioma também foram removidos.
Serena Joy, é você?
Em sua primeira aparição oficial como parte da nova administração, Ivanka Trump, filha de Trump, escolheu um vestido que provocou comparações imediatas com Serena Joy, uma das principais antagonistas da série The Handmaid’s Tale. A peça, no mesmo tom – o “verdinho submissão” – com gola alta e mangas volumosas, ecoa o guarda-roupa austero da distopia de Margaret Atwood, marcada pelo controle rígido e pela supressão da individualidade feminina.
Um look que evoca um regime autoritário de controle sobre corpos e liberdades não parece ser coincidência em um governo que, há anos, ataca direitos reprodutivos e de minorias.
Autoritarismo, hierarquia e distanciamento
No visual sisudo da primeira-dama, mais uma vez, a mensagem era de intransigência. Melania Trump surgiu na cerimônia de posse vestindo um conjunto azul-marinho de Adam Lippes, complementado por um chapéu de abas largas assinado por Eric Javits. A composição rígida evocava uma figura intocável, quase impassível – a personificação do isolamento que marcou sua imagem pública nos anos anteriores.
O chapéu, em especial, parecia moldar um escudo visual, afastando qualquer ideia de aproximação ou acessibilidade. Em mais uma camada narrativa da nova administração, a identidade visual de Melania diz de uma autoridade fria, que observa de longe e se recusa a engajar com os debates contemporâneos.

Tudo, desde os pontos de contato visuais até os discursos, trabalha para cimentar um ideal de poder excludente e hierárquico. Os Estados Unidos são comunicados, mais uma vez, como lugar de opressão, controle e silenciamento.
Nossa profundidade vai entrar na moda? 🥹 Quem aí nos acompanha sabe que sempre fomos dados à camada mais densa; ao olhar mais lento; mais do texto elaborado do que do vídeo plastificado. Nossa atuação na área de conteúdo, por exemplo, é para marcas que se destacam pelo pensamento crítico, que acreditamos ser necessário em tempos de avanço distópico.
Agora, em resposta a tanta automação, deepfake, IA pra cá e IA pra lá, parece estar emergindo (em um recorte da sociedade criativa, claro) uma espécie de renascimento, uma contracorrente que traz a ascensão do que a Artlist Business chamou de Inteligência Humana (IH). O movimento defende a capacidade humana para uma criatividade sofisticada e para a profundidade emocional.
“Apesar dos avanços tecnológicos, estamos testemunhando um retorno ao pensamento criativo autêntico e a processos reflexivos, evidenciando a engenhosidade insubstituível da humanidade.”
A pesquisa da Artlist revelou que 42% dos criadores de conteúdo agora se concentram em produzir curtas-metragens com histórias pessoais e culturalmente enraizadas, um aumento em relação aos 30% do ano passado, sugerindo valorização por narrativas humanas.
Apesar de ferramentas de IA nos oferecerem larga escala, a experiência humana traz nuances emocionais e interpretações socioculturais ainda únicas. E talvez quanto mais o avanço tecnológico nos empurre para longe delas, mais sedutora ela se torne. Tomara.
Estúdio de arquitetura carioca celebra o valor dos caminhos com marca fora do lugar comum
Na Odisseia, Ítaca é o lugar onde se deseja chegar. Fala do anseio humano por estabilidade, segurança e identidade. Mas ao contar a história do retorno de Ulisses a Ítaca, Homero concede protagonismo aos caminhos e seus acontecimentos. É assim no estúdio carioca para o qual criamos a marca Ítaca. Depois de um longo processo conceitual e estratégico, chegamos a um logotipo com elemento variável: a letra “A”, que se adapta de acordo com o contexto de cada aplicação e encontra o inusitado.
“A construção da marca foi conduzida pela VOZ com metodologia e delicadeza. Partindo de um saber sensível, vi a marca aparecer, se tornar consistente e fundamentada” – Bia Saade, diretora de Ítaca.
Uma marca no orgânico, outra nos anúncios: uma das melhores definições de “marca” diz que ela é uma soma de percepções. Essa soma só se dá ao longo do tempo. Demanda, portanto, consistência. Os inimigos do branding são alérgicos a isso: investem em um projeto de marca robusto. Aplicam esse projeto em outdoors pelas ruas. Colocam anúncios na TV. Fazem conteúdo alinhadinho ao tom de voz nas redes sociais. Mas nos anúncios pagos, é como se nem existisse marca. O que é seguido ali não são as diretrizes do próprio branding, mas fórmulas de gurus do marketing, gatilhos mentais, promessas infladas. Arquétipos são esquecidos. O tom de voz, ignorado. O que importa é chamar atenção a qualquer custo. Autosabotagem, só que de marca.
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Estou adorando o trabalho novo. Objetivo é de acordo com as questões mais relevantes do nosso tempo. É uma refrescância acompanhar vcs.