A ideia de que as microtendências perderam força vem ganhando espaço, especialmente no mercado da moda. Depois de anos de ciclos acelerados, em que cada peça, estética ou “vibe” parecia ter um prazo de validade cada vez mais curto, estão sendo apontados sinais de desgaste desse modelo. À Vogue Business, a jornalista de moda Ashantéa Austin disse que há uma fadiga coletiva em curso — não só das tendências rápidas, mas da ilusão de que um único item pode transformar uma identidade.
“As microtendências ganharam força durante a pandemia, quando estávamos confinados em nossas casas e carecíamos de experiências da vida real. Recorremos à internet para conexão e entretenimento, nos reunindo em torno dessas tendências. Mas agora, especialistas concordam que há uma fadiga coletiva. As pessoas estão começando a perceber que comprar um único item não vai desbloquear um novo estilo de vida. A falácia foi exposta. As pessoas estão cansadas de perseguir versões idealizadas de si mesmas online — elas só querem viver.”
Temos nossas dúvidas. O esgotamento das microtendências é um fenômeno real para parte do público. Mas até que ponto isso significa uma ruptura? O consumo acelerado continua movido por dinâmicas que reforçam a rápida adesão ao que viraliza.
Se no passado as tendências eram ditadas por revistas e semanas de moda, hoje são moduladas em tempo real por algoritmos que estimulam a obsolescência. Parte da Geração Z questiona essa lógica, enquanto outra segue impulsionando fenômenos de compra massiva motivados por virais de TikTok.
Mais uma mudança de discurso do que de consumo
Se há uma mudança em curso, ela não está na estrutura das tendências, mas na forma como são justificadas. O desejo por novidade não desaparece, apenas assume um novo discurso. O que antes era celebrado como a próxima grande estética, agora, para ser cool, precisa se apresentar como uma escolha autêntica, quase espontânea.
Mas a própria ideia de autenticidade precisa ser questionada.
A moda sempre operou como um sistema de códigos sociais, em que o consumo não é apenas funcional, mas um meio de comunicar identidade e pertencimento. O que muda são os critérios que determinam o que é valorizado. Houve um tempo em que a novidade bastava; agora, a distinção se desloca para o que parece “genuíno”, ainda que essa autenticidade seja tão produzida, elaborada, construída quanto qualquer outra estética.
O consumo não desacelera, apenas aprende a se reembalar. Se antes o discurso da moda girava em torno do desejo de acompanhar tendências, agora ele precisa flertar com a ideia de uma identidade única.
A ideia de que as microtendências perderam força pode ser um reflexo dessa reformulação narrativa. Mais do que um esgotamento real, o que se vê é, na verdade, um deslocamento na forma de comunicar nosso valor.
Melissa Resch,
diretora criativa da VOZ Colab
Conforto no caos
Há anos que o caos está presente nos discursos sobre inovação. Mas algo vem mudando. Devagar e genuinamente. O caos se tornou algo a ser coreografado. O que antes era risco, agora é terreno fértil para narrativas que incorporam a alegria como resistência – seja para responder ao movimento, enquanto marca, ou capitalizar em cima dele de outra forma (na oferta de produtos, por exemplo).
A tendência é macro e já tem nome: “YOLO as Cope” – em português, algo como “viver o agora como forma de enfrentamento”. É que, em tempos de permacrise, a busca por leveza se torna isso mesmo, um mecanismo de enfrentamento. E as empresas perceberam isso, e estão incorporando a lógica do conforto no caos como estratégia.
O que está por trás disso?
As crises globais se sobrepõem, instituições perdem credibilidade e a incerteza virou um dado fixo da equação. Surgem agora respostas comportamentais que não seguem o esperado.
No lugar da retração, o maximalismo.
No lugar da austeridade, a indulgência.
No lugar da hiperotimização, a aceitação do descanso.
No lugar da produtividade extrema, o diálogo sobre ela.
A tendência vem se repetindo ano após ano, com diferentes nomes até, e ganhando força.
…como isso se traduz para marcas?
O primeiro reflexo está na forma como marcas constroem suas identidades. O que antes era visto como risco agora é diferencial. O maximalismo, a imperfeição intencional e a mistura caótica de referências voltam ao design. Na comunicação, isso significa abandonar previsibilidade e abraçar narrativas mais flexíveis. O desafio, nesse processo, está em não perder de vista a coerência narrativa.
A mudança não acontece só no campo da marca – ela se reflete na oferta de produtos e serviços. Setores como moda, beleza e bem-estar já absorvem essa lógica ao transformar excessos em desejo e imperfeições em identidade. Marcas de tecnologia e produtividade também começam a suavizar discursos de alta performance, trazendo mensagens que falam de uma relação mais salubre com o tempo. O próprio mercado de luxo, historicamente ligado à ideia de perfeição e exclusividade, flerta com a lógica do caótico, do divertido, do acessível como estratégia para capturar novas gerações.
O inesperado se torna uma ferramenta de diferenciação. E a leveza, um valor tão relevante quanto a seriedade.
O benchmarking que vira colagem: o inimigo do branding cria e administra marcas feitas de moodboard: discurso copiado, identidade reciclada, promessas genéricas. Na tentativa de parecer à altura dos demais players do segmento, diluem justamente o que deveriam proteger — a percepção clara de seu valor único.
Referências que inspiram são importantes, mas quando a referência vira reprodução, a identidade se perde, reduzindo a marca a uma cópia superficial, incapaz de comunicar valor. Marcas relevantes não replicam fórmulas: criam narrativas próprias e estratégicas, pautadas por clareza e originalidade.
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